Os suplementos tornaram-se muito populares nos últimos anos, com muitas pessoas recorrendo a eles na esperança de melhorar a saúde geral e reduzir o risco de doenças como o câncer. O fascínio desses produtos é compreensível – quem não quer uma simples pílula ou pó para afastar doenças graves?

Como pesquisador oncológico, estudei os efeitos dos suplementos no risco, prevenção e tratamento do câncer. E a relação entre suplementos e risco desta doença é frequentemente mal compreendida e muito mais complexa do que muitas pessoas percebem.

Os suplementos alimentares vêm em uma ampla variedade de formas, incluindo vitaminas, minerais, ervas e outras substâncias – e é uma indústria multibilionária. Muitas vezes, fortalecidas por alegações de marketing e evidências anedóticas de amigos, familiares, celebridades e gurus do bem-estar famosos que juram pela eficiência desses medicamentos. Pessoas de várias camadas sociais os tomam acreditando que eles podem preencher lacunas nutricionais em sua dieta ou fornecer benefícios adicionais à saúde.

Dano potencial

No entanto, quando se trata de prevenção e tratamento do câncer, as evidências científicas que apoiam o uso de suplementos são confusas, variadas e muitas vezes inconclusivas.

A supermodelo Elle McPherson afirma que recusou a quimioterapia e tratou seu câncer de mama “holisticamente”, incluindo tomar muitos suplementos para o bem-estar.

O mundo da pesquisa de suplementos é vasto e com estudos frequentemente produzindo resultados conflitantes. Alguns, menores, sugeriram benefícios potenciais na prevenção do câncer, mas ensaios clínicos randomizados em larga escala — considerados o padrão ouro em pesquisa médica — não encontraram benefícios significativos do uso de suplementos na prevenção do câncer. Na verdade, algumas pesquisas até mostraram danos potenciais de certos suplementos.

Por exemplo, o Ensaio de prevenção do câncer com selênio e vitamina E testou se esses suplementos poderiam reduzir o risco de câncer de próstata. Ao contrário, o estudo descobriu que poderia aumentar o risco da doença, especialmente em homens jovens e saudáveis.

Da mesma forma, levantamentos sobre suplementação de betacaroteno mostraram um risco aumentado de câncer de pulmão em fumantes. Essas revelações destacam a importância de abordar o uso desses complementos com cautela.

Ceticismo saudável

Celebridades e influenciadores de mídia social frequentemente recomendam suplementos e fazem alegações infundadas sobre o potencial para reduzir o risco de câncer.

Por exemplo, graças aos influenciadores do bem-estar e a Mel Gibson — que agora é tão famoso por suas afirmações controversas quanto por sua atuação — o corante sintético azul de metileno atraiu atenção nas mídias sociais por seu uso como suplemento que combate o câncer. Embora o azul de metileno tenha usos médicos legítimos — e tenha se mostrado promissor em certas áreas de pesquisa sobre o câncer — é crucial abordar essas promessas com um grau saudável de ceticismo.

Na pesquisa sobre câncer, o azul de metileno demonstrou eficiência como um “fotossensibilizador” em tratamentos que utilizam luz laser – o que significa que ele torna certas células cancerígenas mais vulneráveis ao tratamento. No entanto, é importante enfatizar que essas são aplicações médicas específicas sob condições controladas, não uma estratégia geral de prevenção do câncer que pode ser aplicada amplamente por meio do uso de suplementos.

Alegações sobre o azul de metileno como um suplemento de prevenção do câncer não são apoiadas por evidências científicas sólidas. Na verdade, estudos de toxicidade de longo prazo sobre o azul de metileno mostraram resultados mistos, com algumas pesquisas em animais sugerindo riscos potenciais em altas doses.

Related Post

Isso ressalta a importância de não interpretar equivocadamente levantamentos preliminares ou aplicações médicas específicas como justificativa para o uso casual de suplementos.

Ao considerar o papel desses produtos na prevenção do câncer, é essencial adotar uma visão holística da saúde e do bem-estar. Essa abordagem considera a pessoa inteira – corpo, mente e espírito – em vez de focar em componentes ou sintomas individuais.

Um dos elementos mais importantes dessa abordagem é a nutrição. Em vez de depender de suplementos, as pessoas devem buscar atender às suas necessidades nutricionais por meio de uma dieta variada e equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras.

Essa abordagem não apenas fornece nutrientes essenciais, mas também oferece os benefícios das fibras, fitoquímicos e outros compostos encontrados em alimentos integrais que podem trabalhar juntos para promover a saúde.

A atividade física regular é outro componente crucial de uma abordagem holística para a prevenção de tumores malignos. Numerosos estudos e bem conduzidos têm consistentemente vinculado exercícios regulares a menor risco de câncer, bem como à melhora da saúde e bem-estar geral.

O exercício ajuda a manter um peso saudável, reduz a inflamação e pode ter efeitos diretos no crescimento e proliferação de células cancerígenas. Práticas como mindfulness, meditação, yoga ou exercícios de respiração profunda podem ajudar a controlar o estresse e promover o bem-estar geral.

Escolha pessoal – baseada em evidências sólidas

Embora as evidências para muitos suplementos na prevenção do câncer sejam limitadas, é crucial respeitar a escolha pessoal nas decisões de saúde. No entanto, também é importante que essas decisões sejam baseadas em informações precisas e em consulta com profissionais de saúde. Há boas e [clinicamente sólidas] evidências médicas disponíveis.

Profissionais médicos podem ajudar a avaliar os benefícios e riscos do uso de suplementos, levando em consideração fatores como condições de saúde existentes, medicamentos e estado nutricional geral.

Também é importante ter cuidado com produtos que alegam ser “curas milagrosas” para câncer ou outras doenças graves. Essas promessas geralmente são infundadas e podem levar pessoas vulneráveis a adiar a busca por tratamento médico adequado. Em vez disso, concentre-se em estratégias baseadas em evidências para prevenção oncológica e da saúde como um todo.

A abordagem mais eficaz para reduzir o risco de câncer continua sendo holística, com foco em uma dieta balanceada, atividade física regular, gerenciamento de estresse e outros fatores de estilo de vida, incluindo evitar o tabaco e o excesso de álcool. Embora os suplementos possam ter um papel em situações específicas, eles não devem ser vistos como um substituto para um estilo de vida saudável.

Concluindo, embora a ideia de tomar aditivos na suposição de reduzir o risco de doenças graves seja atraente, a realidade é mais complexa. As evidências científicas atuais não apoiam o uso da maioria dos suplementos para prevenção do câncer e, em alguns casos, alerta que certas suplementações de alta dosagem podem até aumentar o risco.

No entanto, isso não significa que todos sejam prejudiciais ou inúteis. Para indivíduos com deficiências nutricionais específicas ou condições de saúde, os suplementos podem desempenhar um papel importante quando usados sob a supervisão correta.